Surgimento da dança-teatro na Europa + algumas primeiras referências brasileiras
Na Europa do fim do século XIX e início do século XX surgia, aos poucos, a dança moderna, com intenções de rejeitar a dança clássica e propor novas formas de movimentação. Esse foi um período de intensas experimentações, tanto nas artes, quanto em outras áreas do conhecimento. Silveira (2009) afirma que, além da busca por uma expressão do contexto de sua época de surgimento, a dança moderna também critica a formalidade da dança clássica e traz a criatividade, liberdade e experimentação como pontos fundamentais.
É nesse contexto que surgem Laban e Jooss, precursores da dança-teatro. Rudolf Laban (1879-1958) foi um dos principais teóricos mundiais da dança, responsável pelo desenvolvimento da teoria da Eukinética e da Labanotation. Segundo Silveira (2009), Laban sistematizou tipos de tempo, espaço, peso e fluência para os movimentos, bem como um método de notação para o movimento, baseada nesses princípios. Laban tem notável importância e influência no desenvolvimento da dança teatro.
Kurt Jooss (1901-1979) foi um bailarino e coreógrafo alemão, famoso por suas experimentações com dança e teatro. Para Silveira (2009), as pesquisas de Laban foram fundamentais para o desenvolvimento dos trabalhos de Jooss. Jooss recusava moldes fixos na dança e buscava trazer valores pessoais dos dançarinos para as obras. Foi nesse contexto que a dança teatro surgiu e foi se estabelecendo como um gênero.
Desse modo, uma figura essencial para o desenvolvimento da dança teatro foi Pina Bausch (1940-2009). Pina foi uma coreógrafa alemã, conhecida por ser o principal nome da dança-teatro mundial. Segundo Júnior (2013), Pina foi aluna de Jooss e em 1973 criou a companhia Tanztheater Wuppertal, na qual desenvolveu seus trabalhos marcados pela repetição e pela utilização de elementos autobiográficos dos bailarinos. As práticas de Pina foram “de extrema importância para a consolidação e propagação da dança-teatro em diversos países". (JÚNIOR, 2013 p.4)
No Brasil, um nome importante para tratar desse lugar híbrido entre dança e teatro é Klauss Vianna (1928-1992). Segundo Castro e Tavares (2016, p.143), Vianna foi um bailarino e coreógrafo brasileiro que transitou nesse “entre-lugar”, tendo em seus processos o rompimento com o balé clássico, e a utilização de “singularidades corporais expressivas”. Ainda, Klauss transita entre funções próprias e já estabelecidas da cena, como coreógrafo e diretor e assina diversas outras funções transitórias, híbridas, intermediárias, inseridas nesse entre-lugar, tais quais direção e movimentação corporal e direção corpo/espaço. Para Castro e Tavares (2016, p. 143) “Vianna promoveu novos entrelaçamentos entre as artes.”
Na cena da dança paulistana da década de 70, também houve processos e espetáculos marcados pelo diálogo entre as linguagens da dança e do teatro. Para Silva (2020), a busca pelo rompimento com os padrões estéticos vigentes na dança, bem como a influência da dança moderna alemã e estadunidense criaram em São Paulo um ambiente de renovação dos processos de criação das companhias de dança. O espetáculo “Quebradas do Mundaréu”, da companhia Ballet Stadium, com direção de Ademar Guerra e coreografia de Décio Otero é um exemplo dessa renovação. Segundo Silva (2020), a coreografia dessa obra é composta por sequências de ações, buscando uma linha teatral.
Outro exemplo é o espetáculo “Sonho de Valsa”, de Ruth Rachou e José Possi Neto, os quais, com suas referências norte-americanas, puderam criar para este espetáculo “uma linguagem em teatro-dança irreverente e crítica” (SILVA, 2020, p.3).
Referências:
CASTRO, Cássia Navas Alves de; TAVARES, Joana Ribeiro. Corpo, arte e pesquisa em Klauss Vianna, entre-lugares de dança teatro. In: COSTAS, Ana Maria Rodrigues et al. (Orgs.). ABRACE: arte, corpo e pesquisa: experiência expandida. Belo Horizonte: ABRACE, 2016, p. 141-148.
JÚNIOR, Francisco de Paula D’Avila; FALKEMBACH, Maria Fonseca. Dança-Teatro, Estranhamento e Resistência. Seminário de História da Arte-Centro de Artes-UFPel, n. 3, 2013.
SILVA, Fernando Vitor da. Dança moderna e dança-teatro: renovações da cena artística paulistana na década de 1970. XXVIII Congresso de Iniciação Científica da Unicamp. Unicamp, Campinas: 2020.
SILVEIRA, Juliana Carvalho Franco da. Contextualização da dança-teatro de Pina Bausch. Cena em Movimento, v. 1, n. 1, p. 22, 2009.
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